
Desde menino, Baden havia se revelado um instrumentista de técnica apurada e capaz de passar por vários estilos e compositores com assombrosa naturalidade. E foi essa técnica que chamou a atenção de Vinícius quando conheceu o violonista. O primeiro encontro entre os dois é marcado de lendas e com várias versões. Mas o importante é saber que Vinícius ficou absolutamente seduzido pelo som de Baden e o convidou para formarem uma parceria. Mesmo assustado com o convite, Baden topou e praticamente morou três meses na casa do "Poetinha", onde escreveram várias canções, em 1962. A primeira leva tinha mais de 25 canções, e reza a lenda também, que além da parceria, Vinícius foi o "professor" de Baden em outra arte: a bebida. Regados a uísque, os dois continuaram compondo. Os dois começaram a escrever canções inspirados no tema: "Bocoché", "Canto de Xangô", "Canto de Iemanjá", "Canto do caboclo Pedra Preta" e o clássico "Canto de Ossanha", que faria sucesso anos depois na voz de Elis Regina.
Baden, por sua voz, estava estudando cantos gregorianos com o maestro Moacyr Santos e percebeu que os cânticos afros tinham semelhanças e resolve produzir melodias que em cima das duas vertentes. O projeto ficou engavetado e só viu a luz do dia, quatro anos depois, em 1966. Foi quando Vinícius ofereceu o projeto à Roberto Quartin, dono do selo Forma, que produzia discos extremamente sofisticados. Quartin topou de imediato a idéia de lançar Os Afro-sambas. Gravado entre os dias 3 e 6 de janeiro, Quartin convidou o maestro Guerra Peixe, o grupo vocal Quarteto em Cy e um coral de "músicos amadores" formado por Nelita e Teresa Drummond, Eliana Sabino (filha do escritor Fernando Sabino), Otto Gonçalves Filho e César Proença e uma jovem aspirante a atriz chamada Betty Faria.
Guerra Peixe optou por dar o disco uma sonoridade mais rústica, como se estivesse sendo, de fato, gravado, em um terreiro, o que acabou sendo um dos grandes charmes do disco, embora Baden criticasse justamente isso, anos depois, considerando o disco "mal gravado". Enquanto Vinícius murmura as letras quase em tom de súplica, Betty Faria reforça as sílabas finais de cada frase, além do acompanhamento do Quarteto em Cy em quase todas as faixas.
Baden era o responsável por climas todas as melodias e até cuidava da percussão. Seu toque inconfundível norteia a bela "Lamento de Exu", que encerra o disco, enquanto Vinícius voa quase solo em "Canto do Caboclo Pedra Preta". Aliás, Vinícius tentou cantar de maneira mais grave, como 'um preto velho", em faixas como "Canto de Xangô". Vale ressalatar "Bocoché", com um clima quase etéreo.
O disco rendeu excelentes críticas e vendagem e solidificou de forma definitiva a carreira de Baden Powell. Após a parceria com Vinícius, Bande deixou de ser um tímido músicos que vivia de pequenas participações na noite carioca para ser um músico mundialmente famoso e indo embora do Brasil definitivamente vivendo por mais de 20 anos na França e cinco na Alemanha.

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